Os
Primórdios do controle numérico
Por
Américo Luiz de Azevedo
Introdução
Um
sistema de controle numérico comanda as ações de uma ou mais máquinas
por interpretação automática de instruções expressas em números.
A palavra "interpretação" refere-se a conversão de alguns ou todos
os dados numéricos, como distancias, ângulos, temperaturas, concentrações,
etc. Estas são quantidades mensuráveis cujas magnitudes podem ser
expressa numericamente, assim como numero de pessoas ou quantia
em dinheiro. Uma máquina numericamente controlada (mais conhecida
como Máquinas CN/CNC *), recebe informações em forma digital. Números
em códigos indicando dimensões de peças que podiam ser produzidos
em cartões perfurados na década de 60 (sistemas de transmissões
de dados deste tipo era possível ser encontrado até na década de
80), eletronicamente gravados em fita magnética, como é mais comum
atualmente em disquetes ou até mesmo num banco de dados centralizado.
Operações de manufatura têm sido usadas com auxilio do controle
numérico com muito sucesso, e cada dia mais percebemos possibilidade
mais generalizadas de sistemas alimentados com informações CNC (desde
as máquinas de usinagem CNC até maquinas de costura ou de bordar),
embora grande parcela das máquinas CNC estão nas máquinas ferramenta
(ou de usinagem) e é sobre esse tipo de máquinas CNC que trataremos
aqui, citarei agora alguns outros usos do sistema CNC que não serão
tratados aqui: Prensas, máquinas de rebitagem, máquinas de corte
a lazer ou a maçarico, dobradeiras de tubos, máquinas de teste de
circuitos, máquinas de inspeções, máquinas de montagens eletrônicas,
máquinas de traçagens, sistemas industriais em fabrica de papel,
tecidos controles diversos em diversos tipos de industrias químicas,
ou seja, um campo tão grande como a vastidão do uso do computador
que a cada dia se descobre uma nova possibilidade de uso.Para demonstrarmos
historicamente como surgiu a tecnologia CNC, é preciso falar sobre
os acontecimentos importantes que permitiram o surgimento deste
conceito que mudou os rumos da manufatura e que hoje nos permite
produzir produtos de extrema complexidade.Foram três as tecnologias
que ao se desenvolverem enunciaram a visionários o surgimento desta
tecnologia que muitos estudiosos chamam de a nova era da industria,
são elas:
- Máquinas ferramenta,
- Automação,
- Informática.
Das
máquinas ferramentas
James
Watt e sua máquina
A revolução
industrial pode ser dita que se iniciou com o escocês James Watt
(projetando a máquina a vapor), deste modo ele também criou a necessidade
pela indústria de máquinas ferramentas. Pois ficou bastante óbvio
que sem uma máquina ferramenta que usinasse cilindros com razoável
precisão ele não poderia construir motores, porque não havia meios
de usinar cilindros nos seus primeiros empenhos.
O primeiro
cilindro foi de fato feito com muita dificuldade como se faz hoje
a funilaria de automóveis e com um funileiro muito bom, pois, a
concordância da forma do cilindro e do pistão é extremamente importante
para se conseguir o funcionamento do sistema. Porem mesmo assim
o vazamento era tal que o vapor escapava e fazia a máquina extremamente
ineficiente.Felizmente em tempo Watt se reuniu com o John Wilkinson
(mestre ferreiro nascido na Inglaterra no inicio de 1700), que possuía
a habilidade de produzir os tais cilindros que Watt requeria. Pois
Wilkinson desenvolvera uma máquina onde era fixado a parte externa
do cilindro, e uma barra rígida estendia-se na longitudinal da peça,
num cabeçote de furação uma ferramenta muito simples desliza pela
barra, removendo o metal e assim se produzia um furo de razoável
precisão de forma. Esta máquina rudimentar de corte de metal executou
o trabalho para Watt em 1775. A partir deste acontecimento e por
exigência das novas necessidades iniciou-se um surgimento de pequenas
oficinas, para implementar as novas industrias com máquinas e ferramentas
que satisfizessem as necessidades emergentes. Sugiram muitos engenheiros
natos e criativos na Europa e nos EUA, realmente se desencadeou
uma época de ouro, o despertar das necessidades por parte das novas
industrias e o gênio inventivo de certos homens permitiu todo este
desenvolvimento.Com esses desenvolvimentos resultou em uma grande
eficiência em termos do uso do trabalho humano, eles também requereram
na época mais guindastes, fixações e máquinas especiais.Esse negócio
progrediu largamente e houve uma necessidade continua por empresas
desse tipo.
Do
principio dos controles (automação)
Durante a revolução industrial houve outro desenvolvimento necessário
para a introdução das ferramentas controladas por números, o desenvolvimento
de controles automáticos.
O controle do som, um dos esforços iniciais no controle automático
ocorreu em torno de 1650 na Holanda quando tambores rotativos foram
equipados com pinos para tocar carrilhões automáticos. Estes foram
mais tarde miniaturizados e aperfeiçoados nas populares caixinhas
de musica. O primeiro tocador automático de piano, patenteado por
M. Fourneaux em 1863 utilizava um grande rolo de papel com 12 polegadas
de largura, perfurado de modo que o ar pudesse passar pelos furos
para ativar teclas apropriadamente. Este piano podia produzir apenas
notas de intensidade uniforme, em 1930, porém, eles estavam tão
desenvolvidos que podiam simular controles de pedais, variações
amplificadas, e deste modo produzir músicas que certamente podia
se perceber as diferenças das tendências dos autores pianistas.
Um dos últimos produzido continha oito furos extras de cada lado
de modo a regular 82 canais das teclas. Estes canais extras possibilitaram
o controle da intensidade do som, o tom da atuação dos pedais, velocidade
da fita e muitas outras variáveis. Isto sem dúvida foi muito importante
para o desenvolvimento das máquinas CNC pois o sistema de fita perfurada
com passagem de ar pelos furos foi largamente usado e até a década
de 80 podia se encontrar máquinas CNC com sistema semelhante. Manufatura
de tecidos. No inicio de 1700, M. falcon inventou uma máquina de
tricotar controlada por cartões perfurados. Cada um dos muitos cartões
era sincronizado em uma sequência para atuar na máquina de tricotar.
Cada furo em um dado cartão atuava um acoplamento mecânico o qual
impulsionava uma agulha associada com uma coluna particular no cartão
para puxar uma linha colorida através do tecido naquele certa posição.
A
invenção de Falcon era, porém limitada à baixa produção.
Máquina
de Jaquard a qual foi inserido
o cartão de controle
Em
1807, J. M. Jaquard inventou um cartão de controle melhorado para
máquinas de tricotar e permitiu a máquina de tecer uma alta produtividade
e baixo custo por unidade, o qual ainda é usado em produções modernas.Para
alto volume de produção as máquinas de tricotar usavam discos de
engrenagens com padrão de dentes periféricos, tais máquinas são
análogas a máquinas automáticas de parafusos ou máquinas de traçagem
nas indústrias de corte de metais.
Dos computadores.
No final de 1800, Charles Babage (o pai dos computadores) projetou
o primeiro computador digital sofisticado, que foi desenvolvido,
porém nunca foi concluído. Mais rápido, mais preciso, e mais flexível
o computador apareceu em 1945 quando o ENIAC foi desenvolvido pelo
departamento de ordenação do exercito dos EUA. Esta era uma máquina
bastante lenta e não possuía programas armazenados em memória. e
as informações sequenciais precisavam ser inseridas por meios externos.
Nos
primórdios de 1900 Hermam Hollerith desenvolveu um sistema armazenamento
de dados para cartões perfurados para o departamento de recenseamento
dos EUA. Durante a segunda guerra mundial, John Von Neumann projetou
o computador de programas armazenados digitalmente o qual se tornou
uma peça essencial para o comercio e industria complexa.
Máquina de cartões perfurados de Herman Hollerith
Do
aparecimento e desenvolvimento do controle numérico
No
curso da revolução industrial, tinham sido achados meios para reduzir
o esforço físico exigido para se desenvolver o processo industrial.
Computadores para fácil acumulação, armazenagem, e processamento
de dados poderiam aliviar as memórias dos homens e ajudar no exercício
do poder da lógica. Reconhecidamente foi inevitável o desejo de
prover uma ligação entre estes dois desenvolvimentos. Deste modo
o que por alguns foi chamado de segunda revolução industrial, tinha
começado. Em 1912, Scheyer solicitou a patente da máquina de cortar
algodão aos E.U.A. o qual tinha como objetivo "prover os meios para
ou controlar movimento em qualquer direção ou espaço em um ou vários
planos para movimentos angulares por meio de uma gravação preparada
previamente em uma folha perfurada de papel ou outro material".
Em 1949, a força aérea dos E.U.A. estava certa que máquinas ferramentas
convencionais manuais não poderiam ser confiáveis para manter lado
a lado as frequentes mudanças e ao mesmo tempo prover adequada produção
de componentes de aviões em uma emergência. Baseado na experiência
de uma pequena empresa fabricante hélices e rotores de helicópteros
na época a "Parsons Corporation" (Hoje, porém uma grandiosa empresa
atuante em muitos ramos tecnológicos), que em 1947 havia experimentado
colocar uma forma rudimentar de controle por números em uma máquina
de usinagem convencional, ligando esta m´qquina a um computador que
era alimentado por informações via cartões perfurados.A FAA 'Força
Aérea Americana' então ao reconhecer um possível grande avanço na
fabricação de aviões e material bélico, contratou a Parsons e patrocinou
estudos e desenvolvimento do controle numérico, e assim planejaram
e executaram as adaptações de controle numérico para uma máquina
ferramenta convencional da Cincinnati (fabricante na época de máquinas
ferramenta convencionais e atualmente um dos maiores fabricantes
de Máquinas CNC ), e deste modo criaram o protótipo de uma máquina
CN que foi demonstrado em 1953 no 'MIT'instituto de tecnologia de
Massachusetts. Estes estudos foram estendidos para incluir o desenvolvimento
de sofisticadas rotinas de computadores por fitas perfuradas e os
estudos da evolução do controle numérico. Os resultados foram excepcionais
e demonstraram uma mudança revolucionária nas industrias de transformação.
O ímpeto dado pela força aérea americana permitiu um rápido desenvolvimento
de uma variedade de controle de máquinas e sistema de armazenamento
de dados. Muitos formatos diferentes foram aplicados, fita magnética,
cartão perfurado, fita perfurada, e mais atualmente disquetes e
sistemas de dados centralizados.
A padronização.
O trabalho
de padronização foi feito principalmente pela Associação das industrias
eletrônicas (EIA Standards), com o auxilio de ativistas nas máquinas
ferramentas, controles eletrônicos e usuários das industrias de
máquinas ferramentas. Este trabalho judou a reduzir o numero médio
de armazenamento de programas e acessórios para CNC. Os mais ativos
desenvolvedores de controle numérico nos E.U.A. estão hoje usando
informações gravadas em disquetes ou em bancos de dados que são
transmitidos até as máquinas através de protocolos especiais como
o FTP (File Transfer Protocol, o mesmo usado pela internet) ou em
caso de redes especificas através dos DNC (Direct Numerical Control).A
EIA Standards definiu um conjunto de códigos de caracteres usados
na perfuração de fitas de uma polegada de largura. Para que os usuários
de máquinas numericamente controlados pudessem se unificar nos equipamentos
de preparação de fita. Para aliviar a tarefa do engenheiro de processo,
o formato da fita ou arranjo dos caracteres na fita também foram
unificados para certos tipos de máquina.Atualmente a ISO (International
Organization for Standardization), entidade de padronização de maior
aceitação mundial, regulariza o maior e mais aceito conjunto de
normas para se usar na tecnologia CNC .
Comentários
e conclusões:
O culminar
das três tecnologias (Máquinas ferramenta, Automação, Informática),
e a ansiedade evolutiva humana trouxeram nos hoje as possibilidades
de construir peças e insumos de extrema complexidade e precisão,
é possível, por exemplo, perceber a evolução nos design dos automóveis
que há vinte anos tinham formas rudimentares que de certo modo nos
dava a impressão de sobra de materiais. Hoje quando nos colocamos
no interior de um bom automóvel parece que tudo é muito justo, as
formas são bonitas, tem se a impressão nítida de mais conforto,
mais espaço, a ergonomia dos acentos, pedais e manoplas são impecáveis.
Sem quase percebemos em tudo isso esta implícita a evolução do CNC
e as ferramentas afins, como os CAD/CAMs e máquinas ferramentas.O
CNC continua em sua mais franca evolução, nunca foi usada tanto
esta tecnologia no mundo e no Brasil, é um mercado muito atraente
tanto para a industria e comercio, como para profissionais que desejam
se aprimorar ou ingressar em uma carreira promissora.
Novos conceitos estão surgindo em todos os ramos tecnológicos que
se findam na tecnologia CNC , desde o concepção nos CADs de ultima
geração até a finalização do produto nas mais sofisticadas máquinas
CNC , tais como:
- Modelamento de
sólidos 3D em CADs de ultima geração;
- Rotinas ultra-automáticas
nos novos CAMs;
- NURBS suportados
desde o CADCAM até a mais nova geração de controles;
- HSM (higth speed
machines);
- Ferramentas de
altíssima velocidade de corte.
Tudo isso e muito mais, estão contribuindo para o desenvolvimento
muito rápido desta tecnologia, que abre um leque muito grande de
oportunidades para novas empresas e profissionais que se aventurem
neste tão recente ramo da engenharia.
* CN em português do NC em inglês (numerical
control) e CNC (Computerized Numerical Control)
Bibliografia:
Handbook of manufacturing automation and integration (Edição 1980,
USA)
Numerical control in manufacturing-Frank W. Wilson (USA), Mc-Graw
Hill Book Company
Webgrafia:
http://www.chez.com/vaste/technique.htm
(História das máquinas)
http://www.top-biography.com/navigation%20menu
(Biografia de pessoas
famosas)
http://www.iron.oakengates.com
(Historia do aço)
http://www.histoire-informatique.org
(Historia
da informática)
http://www.cinmach.com/tech/tech_set.htm
(Site
oficial da Cincinnati)
http://www.utm.edu/departments/engin/lemaster/
Auto%20Prod%20Sys/Notes%2022.pdf (Breve historia
do CNC)
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