Usinagem
de formas complexas:do CAD/CAM ao CNC
Por
MSc Eng. Adriano Fagali de Souza
1
Manufatura de Superfícies Complexas
A manufatura de superfícies complexas é caracterizada
por programas NC extensos e tolerâncias que envolvem o processo,
acarretando em inconveniências na manufatura, que podem se
agravar quando se utiliza o processo de usinagem em alta velocidade
de corte. Para melhor esclarecimento desta etapa produtiva, a seguir
encontra-se uma descrição do processo de produção
envolvendo a cadeia CAD/CAM/CNC.
1.1
Criação de geometrias em um sistema CAD
Atualmente as geometrias de produtos são geradas nos sistemas
CAD fazendo uso de sofisticadas metodologias matemáticas
(como NURBS, por exemplo), necessárias para satisfazer
as exigências do modelamento de formas geométricas
complexas. Finalizado o processo de modelamento no sistema CAD,
tem-se a transferência desta geometria para o sistema
CAM, visando a geração de programas NC
para a manufatura.
Para a transferência de dados do sistema CAD para o
sistema CAM, grande parte dos sistemas freqüentemente
utilizam uma malha de triângulos gerada sobre a geometria
original do CAD e que aproxima da representação
geométrica real através de uma tolerância definida
pelo usuário. Algumas empresas que desenvolvem sistemas
CAD/CAM, encontraram nesta técnica uma maneira eficiente
de se trabalhar. Esta metodologia permite uma comunicação
simples e conveniente entre sistemas CAD e CAM, pois são
apenas transferidas informações por coordenadas cartesianas,
permitindo assim uma fácil comunicação entre
sistemas CAD/CAM de um mesmo fornecedor ou de fornecedores
diferentes que, normalmente, são baseados em diferentes modeladores
geométricos.
No entanto, neste processo triangularização ocorre
a conversão de uma geometria gerada por um modelo matemático,
capaz de representar precisamente qualquer forma geométrica,
em segmentos de retas. Desta maneira é introduzida a primeira
tolerância no processo, como mostra a Figura 1. Quanto menor
a tolerância para a triangularização, melhor
descrita será a geometria; proporcionalmente, aumenta-se
o tamanho dos arquivos e o tempo para cálculo de programas
NC.
Figura 1: Malha de triângulos gerada para a transferência
de dados
A Figura 1 foi criada um valor elevado de tolerância para
ilustrar o fato. Em azul hachurado, está a geometria original
do CAD, criada por uma função Spline. Em marrom
a geometria triangularizada.
1.2 Geração de programas NC através de um
sistema CAM
A trajetória da ferramenta para a usinagem de uma superfície
complexa é gerada pelos sistemas CAM através
de pequenos segmentos de retas, utilizando apenas os comandos
G01, de acordo com a norma DIN 66025. O comprimento mínimo
destes segmentos, não podem ser determinados pelos usuários
e está relacionado com as tolerâncias descritas e o
grau de curvatura da superfície.
O software CAM para o calcular as trajetórias de ferramentas
contidas em um programa NC, necessita deste outro valor de
tolerância. Esta tolerância está relacionada
com a exatidão com que a trajetória da ferramenta
irá seguir o modelo geométrico proveniente do CAD,
agora representado por uma malha de triângulos.
Alguns sistemas CAM permitem estabelecer através de
uma banda de variação, limites de tolerâncias
com a possibilidade de desvio da trajetória para dentro e/ou
para fora da geometria.
A Figura 2 ilustra uma trajetória de ferramenta calculada
sobre um modelo geométrico utilizando um valor de tolerância
simétrico, com a ferramenta saindo e invadindo o modelo dentro
da tolerância estipulada pelo usuário.
Figura 2: Tolerância da trajetória da ferramenta
Para que se tenha uma qualidade satisfatória e um processo
efetivo, o usuário deve estar plenamente ciente destas características
citadas acima.
1.3
Execução dos programas NC
Depois de gerado o programa NC pelo CAM, este deverá
ser transmitido para a máquina CNC para realizar a
usinagem. Um programa NC é um arquivo em formato ASCII,
e pode ser transferido de um computador externo para o CNC
através de cabos seriais, RS232, ethernet ou até
mesmo por um disquete.
1.3.1
Características do CNC - Tempo de Processamento de Bloco
O Tempo de Processamento de Bloco (TPB) é o tempo
médio necessário para o controle numérico processar
e enviar informações de comando para o acionamento
dos servo-motores, e é uma característica do CNC.
Atualmente encontram-se comandos numéricos com TPB
a partir de 100 ms até 0,5 milisegundos para os mais modernos.
O comprimento do segmento de reta utilizado para descrever uma parcela
da trajetória da ferramenta, em conjunto com o TPB,
são fatores que limitam a velocidade de avanço da
usinagem.
Quando a velocidade de movimentação da máquina
relativo a um bloco de comando for maior que a velocidade do comando
numérico para enviar novas informações de posicionamento,
a máquina chega ao ponto destino e espera os novos comandos
para movimentação (Servo Starvation). Embora isto
ocorra em frações de segundos, tem-se uma drástica
repercussão no acabamento final. Alguns CNCs são
capazes de reduzir o avanço automaticamente, adequando-se
ao TPB para evitar problemas de movimentação,
desta forma, reduz-se a velocidade de avanço da usinagem.
O TPB do comando numérico deve ser menor que o tempo
necessário para a ferramenta percorrer o menor incremento
de trajetória descrito por um bloco de comando. Supondo que
o menor incremento seja 0,3 mm e que o TPB seja 8ms, a velocidade
de avanço máxima estaria limitada em:
Portanto,
a velocidade de avanço é limitada pelo TPB
relacionado ao comprimento dos segmentos de retas do programa
NC. Este é um dos inconvenientes de se trabalhar com
interpolações lineares de segmentos de retas para
a programação NC, agravando-se quando se utiliza
comandos impróprios.
Pode-se também citar como desvantagem, o tamanho do programa
gerado pela interpolação linear, devido ao grande
número de segmentos de retas gerados, visando um bom acabamento.
1.3.2
Execução de Programas On-line (Transmissão
em Blocos)
Em geral os comando numéricos possuem capacidade limitada
de memória para armazenar os programas. Estes, quando utilizados
para executar programasmaiores que sua capacidade, necessitam fazer
uso dos recursos para execução on-line. O CNC
é conectado a um computador externo através de uma
interface padrão, como por exemplo RS-232.
Com a utilização de um remote-buffer, o CNC
é alimentado pelo computador, executa as linhas de comandos,
apaga da memória as linhas já executadas e envia sinal
para o recebimento de novas informações de acordo
com as necessidades. Este processo se repete durante toda a operação
em frações de segundos.
Esta velocidade de transferência é quantificada em
bits por segundo (baud rate). Cada linha de programa NC define
um dos pontos cartesianos necessário para descrever os vários
segmentos de retas que constituem uma trajetória de ferramenta.
Cada linha de comando tem em geral 24 caracteres para usinagens
tridimensionais (X590.029Y234.676Z756.098). Cada caracter é
descrito por 11 bits: 7 data bits, 1 start, 2 stop, 1 paridade.
Neste caso, a velocidade de transferência de dados entre o
computador e a máquina CNC também é
um fator que limita a velocidade de avanço a ser utilizada
na operação. Quando se trabalha com velocidade relativamente
baixa para o avanço, esta taxa de transferência, assim
como o TPB, não são representativos. Quando
a velocidade de avanço supera a capacidade de transmissão,
observa-se solavancos na máquina, com descontinuidade na
movimentação, resultando em um acabamento de qualidade
indesejável, com estrias nas paredes verticais.
Exemplo de cálculo destes parâmetros:
- Média de
16 caracteres por linha (usinagem 2 ½ eixos).
- 11 bits por caracter.
- Portanto, 176
bits para cada linha de comando.
- Velocidade de
avanço: 3.600 mm/min = 60 mm/seg.
- Comprimento médio
entre das retas que compõe a trajetória da ferramenta:
0,3mm.
- Cálculo
da velocidade de transmissão necessária, em função
da velocidade de avanço e do comprimento dos segmentos
de retas:
Alguns
CNCs modernos já são capazes de minimizar estes
problemas, fazendo uso de um disco rígido incorporado ao
CNC com grande capacidade de memória; Block Buffer,
capaz de armazenar blocos de comandos processados; e interfaces
Ethernet para transferência de programas com altíssimas
taxas de transmissão; entretanto, muitas máquinas
capazes de trabalhar com velocidades relativamente elevadas, ainda
não estão equipadas com estas funções.
2 Utilização de NURBS no Processo CAM/CNC.
Atualmente está em desenvolvimento a utilização
da representação matemática utilizando
NURBS também para gerar o percurso da ferramenta, substituindo
desta maneira as interpolações lineares e os comandos
G01, para o caso de superfícies complexas. Este tipo
de representação pode substituir um grande número
de segmentos de retas com uma única sentença.
Para completar o ciclo CAD/CAM/CNC utilizando NURBS,
necessita-se um sistema CAM, tanto quanto um comando numérico,
capazes de gerar e interpretar dados em NURBS.
Atualmente, alguns sistemas CAM são capazes de gerar programas
NC interpolados por NURBS e existe no mercado comandos numéricos
capazes de interpretar estes programas.
Pode-se obter as seguintes vantagens:
" redução de até 60% do tamanho dos arquivos;
" redução do problema de Tempo de Processamento
de Bloco, fator limitante da velocidade de avanço na usinagem
de acordo com o CNC, uma vez que cada linha de comando representa
um percurso relativamente longo da ferramenta;
" melhor acabamento superficial;
" Redução do tempo efetivo de usinagem da ordem
de 3 a 4 vezes, permitindo uma melhor manipulação
das acelerações e desacelerações em
caminhos complexos, desta forma, o avanço real se aproxima
do avanço programado.
A bibliografia sobre o assunto apresenta opiniões contraditórias
ao uso de programas NC interpolados por NURBS. Entre
os argumentos destacam-se a evolução dos comandos
numéricos com a possibilidade de aumento substancial de memória,
além da alta capacidade de processamento de bloco.
Alguns dos comandos numéricos atuais são capazes de
interpretar dados interpolados por NURBS, mas deve-se destacar
que cada um destes tem sua forma particular de receber as interpolações
NURBS, variando a sintaxe, o grau de polinômio da equação,
etc. Desta forma, o sistema CAM deve estar apto a pós-processar
o programa NC para um específico CNC.
Existem no mercado comandos numéricos que geram interpolações
NURBS a partir de programas gerados por interpolações
lineares. O programa introduzido deve conter comandos G01,
e o CNC faz automaticamente a conversão. Neste caso,
introduz-se mais uma tolerância no processo.
|