Uma
Nova Visão para Redes Industriais
Com
a popularização da Internet e seu crescimento exponencial,
o termo "Rede de Comunicação de Dados",
ou simplesmente "rede" torna-se cada vez mais comum no
dia-a-dia em geral, e não poderia deixar de estar presente
em ambiente industrial. A cada dia surgem novas alternativas para
soluções envolvendo máquinas da produção
integradas às redes de comunicação, criando
mecanismos poderosos de controle, monitoramento, geração
on-line de documentação e disseminação
dessas informações. Com as tecnologias surgidas das
necessidades dos "Internautas", hoje é possível
usufruir dessas funcionalidades com segurança, de qualquer
parte do globo onde exista um acesso Internet. Como é possível
notar, o conceito de que a rede serve apenas para compartilhamento
de arquivos e impressoras está bastante ultrapassado. O catalisador
dessa mudança em relação à visão
de múltiplo uso das redes de comunicação, foi
sem dúvida o conceito PC (personal computer). Sem ele não
seria possível interligar tantos sistemas de usos tão
distintos (desde vídeo conferência até controle
numérico), a um custo tão reduzido.Mas assim como
os equipamentos vão evoluindo conforme as novas necessidades,
as redes de comunicação também devem ser adequadas
à essa nova realidade. As aplicações ditas
"industriais" em relação a redes, eram outrora
codinome de "robustez", pois o ambiente na maioria das
vezes é hostil a equipamentos eletrônicos. Atualmente
o problema de hostilidade de ambiente possui soluções
de prateleira e padrões consolidados, como exemplos a fibra
ótica, o cabeamento de par trançado de alta velocidade
ou a comunicação sem fio utilizando a tecnologia empregada
na comunicação móvel celular. O requisito desempenho
torna-se indispensável já que o tráfego de
voz, imagem, telemetria e controle em ambiente industrial é
hoje uma realidade. Cada vez mais os sistemas necessitam de "disponibilidade
de canal", ou seja, como há uma interdependência
muito grande entre máquinas que realizam as tarefas, o meio
de comunicação deve se apresentar sempre disponível.Chega-se
portanto a conclusão de que não é mais possível
tratar uma rede de produção como um simples apêndice
de uma rede corporativa. A rede da produção (entenda-se
máquinas) possui características distintas de priorização,
gerenciamento e manutenção em relação
ao ramo corporativo (entenda-se rede de escritório). Apenas
para ilustrar, um processo de transferência de arquivo entre
bancos de dados necessita um bom rendimento da rede, mas a precisão
em relação ao tempo de resposta do processo não
é tão importante. No caso de um sistema de telemetria
e controle, o tempo de resposta é ponto crucial para o funcionamento
do sistema.
Um
exemplo de problema
A figura
acima ilustra uma amostra de 8 segundos do tráfego de informações
em um dado ramo de uma rede corporativa.
O que
chama a atenção no gráfico da figura acima
é a barra onde se lê 86,352%. Esta barra significa
que nos oito segundos amostrados, mais de 86% das unidades de informação,
os chamados pacotes, são do tipo broadcast, traduzindo de
forma rude, unidades de controle, não de troca de dados.
O
problema existe em função de dois principais fatores:
- Configuração
física da rede: o número de máquinas é
excessivo para a arquitetura utilizada.
- Configuração
lógica: o sistema baseado em cliente-servidor(*) não
atende toda a gama de necessidades dos usuários, isso
cria a utilização indiscriminada de protocolo
de comunicação "peer-to-peer" (ponto-a-ponto)
na rede.
(*)
Nota explicativa: a arquitetura cliente-servidor prevê que
não deve existir comunicação direta entre as
máquinas que compõem a rede, ou seja, sempre deve
haver um servidor entre as máquinas que precisam comunicação.
A principal vantagem desta arquitetura é a alta capacidade
de controle e gerenciamento. O outro tipo de arquitetura é
a ponto-a-ponto, onde não há necessidade de um servidor
para controle de comunicação, uma máquina se
comunica diretamente com a outra. A vantagem é a flexibilidade.
Possíveis Soluções:
Solução Global
A Solução global seria a separação do
tráfego da rede referente à rede corporativa da rede
da produção. Essa separação não
implicaria de forma alguma em perda de funcionalidade entre os dois
sistemas, apenas separando o que é tráfego corporativo
isolado no ramo corporativo, o tráfego da produção
no ramo da produção, e eventualmente comunicação
entre os dois ramos.
Vantagens: grande aumento na capacidade de resposta da rede a sistemas
próximos a "real-time" abrangendo grande parte
da produção.
Desvantagens: mudança na configuração lógica
e física em todos os prédios onde existam sistemas
da produção e gerenciamento/controle apurados.
Solução
Localizada
A solução
localizada seria prover os sistemas que necessitem velocidade, de
ramos especiais na rede. A vantagens seria o baixo custo, porém,
haveria algumas desvantagens tais como: limite muito pequeno de
flexibilidade e de limiar de crescimento.
Considerações
Finais
Há
a necessidade de revisão nos ambientes de rede, não
só do ramo corporativo ou da produção. As aplicações
WEB e multimídia tendem a se tornar ferramentas indispensáveis
para o aumento da eficiência e velocidade dos sistemas. O
sistema cliente-servidor não possui suporte realmente nativo
para aplicações WEB e multimídia. Foram feitas
apenas adaptações para utilização destas
tecnologias. Não é possível depender apenas
de um sistema operacional de rede que atenda todas as necessidades
ao mesmo tempo.A rede pode apresentar um problema mascarado pela
própria capacidade de recuperação intrínseca
do sistema. Devido a unidade de tempo envolvida, milisegundos, aparentemente
tudo funciona bem, mas essa capacidade de recuperação
apresenta pequeno limite de tolerância considerando uma nova
gama de aplicações a curtíssimo prazo.
Problemas
com Sistemas CNC com conexão de rede
A utilização
de plataformas PC em Sistemas CNC é uma realidade. Os grandes
fabricantes já a utilizam em seus equipamentos mais sofisticados
(Fanuc e Siemens só para exemplificar). Mas é preciso
ter em mente que para um CNC a função principal não
é a de fornecer um serviço de comunicação
de dados veloz. Sendo assim há limitações no
uso de conexões de rede para estes equipamentos. Não
se pode encarar um CNC como sendo um micro "embutido"
em uma máquina. Ele possui funções e requisitos
bem diferentes daquele micro que é usado em escritório.
Sua confiabilidade também é questionável, basta
lembrar as tantas vezes que temos problemas com nossos desktops
Windows (travamentos, vírus etc). Alguns sistemas se dizem
capazes de utilização e monitoramento remoto de máquinas
CNC. Na minha opinião existem detalhes que devemos levar
seriamente em consideração. Se o seu processo tolera
atrasos da casa de segundos, esses sistemas são aceitáveis,
pois nem sempre temos as funções de rede com prioridade,
ou seja a rede e o próprio sistema geram atrasos. Se a necessidade
é de um monitoramento e controle na casa de centésimos
de segundo, não é indicado. Apesar da rede Ethernet
estar consolidada como padrão de nível físico
de rede, o controle de processos críticos baseado nesta tecnologia
ainda é bastante questionável.
Por
Osvaldo Norio Ito
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